Local: Montemor-o-Novo, distrito de Évora
Dimensão e características: Dois hectares, virado a sul e nascente, terra argilosa, limitado a sul pela margem do Rio Almansor.
Agricultor: Jorge Gonçalves

1. Qual era o teu intuito quando alugaste o terreno? O que tiveste em conta na tua procura?
O terreno foi comprado no final de 2016 para ter onde viver e poder produzir para consumir / ser autónomo, para ter o menor custo de vida e menos necessidade de trabalhar só para pagar contas, nomeadamente renda, e ter mais tempo para o que gosto de fazer. Procurei terrenos próximos da cidade (que possa ir sem carro), com proximidade a uma linha de água (este tem 200 metros de margem com o Rio Almansor), que não se ouvissem estradas nem suiniculturas (e seu cheiro), e que não fosse virado a norte.

2. Que tipo de trabalho era feito no terreno antes da tua chegada? Qual o estado do solo?
O terreno estava sem qualquer uso há uns 4 anos. Antes um senhor utilizava para a sua agricultura, e plantou oliveiras e videiras, assim como algumas árvores de fruto. O solo estava bastante pobre em geral, compactado, e uma vasta área estava desflorestada e erodida.

3. Quando aterras no terreno, por onde começar? Que estruturas tinhas disponíveis? Como escolher uma linha de actuação para um terreno?
Quando cheguei ao terreno tentei ouvir pessoas com experiência, especialmente em reflorestação e árvores de fruto. Tinha apenas um barracão que foi transformado em habitação.
Não tinha nenhum furo nem poço, pelo que no primeiro Verão ficámos sem água pois actualmente o rio seca no verão devido à barragem dos minutos que não respeita o caudal ecológico cortando toda a água do rio. Fizemos um furo que pretendemos deixar de precisar assim que a linha do rio for recuperada (i.e. nascentes sejam recuperadas e a barragem passe a respeitar a lei).
O objectivo é plantar o máximo de árvores possível, para que comecemos a “plantar” água, e assim voltar a recuperar as nascentes. Para tal, começámos por tentar regenar o solo. Na zona mais erodida, que tem alguma inclinação, fizemos o Key Line utilizando a alfaia de Iomanns. Semeámos tremocilha, fava e outras plantações que ajudaram a azotar o solo. Estrumámos, espalhámos carvão activado com microorganismos efectivos.

4. Que bagagem de conhecimento e experiência tinhas? Quais as tuas fontes de inspiração e estudo?
Desde 2007 que estou em contacto com as ideias e práticas de permacultura, bioconstrução, etc. A água é a minha principal preocupação / inspiração e as árvores como recurso base de subsistência, não só alimentar, como promotores de vida, ao contrário do Alentejo cada vez mais desertificado por acção humana (produção de carne, plantações intensivas na utilização de água, etc.) e, como tal, com cada vez menos água.

5. Quando é que começaste a mexer no terreno e quais as primeiras acções?
Depois de planear o que fazer, a primeira acção foi desenhar e implementar o sistema de key line e definir quais as zonas que poderiam ser plantadas primeiro, e as que precisavam de mais tempo de regeneração de solo. Começamos também a fazer horticultura e a recuperar as árvores que havia no terreno mas que há muito não eram podadas nem cuidadas.

6. Quantas pessoas trabalham no terreno e com que regularidade?
Nas árvores as acções são pontuais: poda significativa no inverno (basta um dia), podas pequenas e pontuais sempre que fizer sentido, e na primavera/verão o principal é a rega, que em parte já está automatizada. Também é preciso espalhar o composto com o carvão, e fazem se as caldeiras. As árvores não precisam de tanto trabalho quanto a horticultura. Essa sim, consoante a escala e métodos, pode precisar de cuidados mais frequentes.

7. O objectivo é produzir para venda, auto-consumo ou regeneração ambiental?
O objectivo é principalmente o autoconsumo, mas com a quantidade de árvores plantadas, deverá gerar excedente que poderá ser transformado ou vendido em fresco. Para além de me suprir necessidades alimentares, lenha, madeira, também promove a existência de água no subsolo, alimentando as nascentes, e assim o Rio.

8. O que cultivas para colher a curto prazo?
Para colher no curto prazo temos a horticultora, azeitonas, uvas e alguma fruta de árvores que já estavam plantadas. A curto médio prazo temos os frutos das arbustivas (goji) e videiras entretanto plantadas.

9. Quando, quantas e que árvores plantaste e com que objectivos?
Plantámos até agora 250 árvores, a maioria de fruto, mas outras também a pensar na qualidade da madeira (cerejeira e castanheiros) que apesar de ser Alentejo, na zona do rio se dão bem. Penso que podemos plantar mais 500 árvores, e pelo meio arbustos, nomeadamente multiplicar as videiras porque são altamente resistentes à seca, e a uva é bela para o vinho.

10. Usas algum composto? Quando e em que quantidades aplicas? Com que técnica e recursos?
Fazemos sistematicamente composto usando: estrume de cavalo e de pombo, palha, bokashi, microorganismos eficientes, farelo de trigo, açúcar, leite, carvão, cinza, e pó de pedra.

11. Fazes podas às árvores? Guardas a matéria orgânica? Onde vais buscar matéria orgânica complementar?
Fazemos poda, não é preciso muita, foi mais ao início devido ao acumular de tempo sem serem tratadas. A matéria orgânica tentamos que seja do terreno, mas devido ao seu relativo mau estado, precisamos de importar de fora, trazendo estrume de cavalo do centro hípico perto da quinta, e o de pombo de onde ele existir, por exemplo, através de membros da associação columbófila local.

12. Que mudanças sentes no terreno, ao longo dos anos, em termos de qualidade da terra e biodiversidade?
Ainda não passou muito tempo e as árvores que plantámos ainda estão pequenas por isso é difícil notar o impacto. Na zona com declive, que estava pior em termos de erosão, sente-se que já crescem mais plantas do que quando chegámos. O solo em geral está mais escuro e leve. Onde fazemos horticultura, por espalharmos composto mais vezes, é onde sentimos a maior diferença, e a terra está bastante melhor.

13. Qual a tua previsão de produtividade do terreno?
É difícil estimar a produtividade porque não temos dados de quanto exactamente cada árvore pode produzir nem quanto pode valer pela sua madeira, mas sentimos que poderá ser suficiente para pagar os extras, já que o básico da sobrevivência obtemos directamente da quinta sem custos (comida e habitação).